Mensagem falsa circula desde 2008 e tem voltado a bombar nas redes. Mortes não ocorreram em cidade de SC, como diz o texto. Especialista diz ainda que quantidade de arsênio presente na madeira é insuficiente para intoxicar uma pessoa.
Por Roney Domingos, G1
Circula pelas redes sociais uma mensagem que diz que três homens morreram durante um churrasco após queimarem madeira de poste de transmissão usado e descartado. É #FAKE.
O texto falso circula nas redes sociais há mais de dez anos e já foi desmentido outras vezes, mas tem voltado a bombar.
A mensagem afirma que os homens morreram envenenados por causa da volatização do arsênico presente na madeira, em Itaiópolis, uma cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, em Santa Catarina. O prefeito da cidade, Reginaldo José Fernandes Luiz, diz que é tudo mentira. “É uma fake news das mais absurdas que podem existir. Aqui em Itaiópolis nada disso aconteceu”, afirma.
O texto que circula nas redes sociais é finalizado com a assinatura do professor Tetuo Hara, da Universidade Federal de Viçosa. A instituição informa que ele realmente trabalhou lá, mas está aposentado. Ele diz, no entanto, que jamais escreveu tal carta.
Química, mestre em tecnologia ambiental e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, a coordenadora técnica da Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM), Gisleine Aparecida da Silva, afirma que a mensagem contém vários erros.
Em primeiro lugar, ela diz que essa madeira é tratada com cobre, cromo e arsênio (e não cobalto, como diz o texto falso). Existe um limite seguro para o uso dessas substâncias e todo o processo é controlado por normas técnicas, afirma.
Apesar disso, não é mesmo recomendado queimar madeira dessa procedência, assim como não é recomendável queimar nenhuma madeira industrializada. Ela também não deve ser utilizada como tábua de carne e cocho de animais, por exemplo.
Gisleine diz, porém, que o tratamento da madeira ocorre de forma fechada: os produtos são diluídos no tratamento da madeira sob pressão e, quando penetram, reagem com os componentes da madeira e formam compostos insolúveis.
Engenheiro civil, especialista em estruturas de madeira e presidente do Sindicato da Madeira de Ponta Grossa, o empresário Leonardo Puppi Bernardi, que foi diretor de normatização da ABPM, afirma ainda que a quantidade de arsênio presente na madeira é insuficiente para intoxicar uma pessoa.
Ele acredita que a difusão do boato atende a objetivos comerciais de concorrentes das empresas de madeira tratada. E explica que o arsênio presente na madeira serve para evitar cupins, o cobre, para evitar fungos, e o cromo, para fixar as substâncias.
O setor de preservação de madeira é regulado por uma série de normas técnicas. Existe um comitê brasileiro de madeira que atua para regular todas as questões relativas ao setor, entre elas o tratamento da madeira, com normas específicas para postes, dormentes, mourões, carreteis, estruturas e construção civil.
É #FAKE que homens morreram após fazer churrasco com poste de madeira.